Maria da Glória Sá Rosa a pioneira do nosso teatro.

19/12/2009 09:47

 

 O jogo de espelhos, do olho a olho, do corpo a corpo entre palco e platéia, constitui algo único e insubstituível. A partir de 1914, com a chegada dos trilhos da Noroeste do Brasil a Campo Grande, possibilitando a ligação entre Bauru e Porto Esperança, companhias de São Paulo e do Rio de Janeiro vinham com relativa freqüência a Campo Grande, Aquidauana e Corumbá.
Nos anos quarenta, cinqüenta e sessenta, nenhuma grande companhia visitou Mato Grosso do Sul. Os filmes eram precedidos de um “complemento nacional educativo” e dos traillers dos lançamentos da semana.
Ali, com no Cine Ouro Branco, de Dourados, aconteceram os já conhecidos espetáculos da primeira metade do século, realizados na base do entusiasmo e da improvisação.
A inauguração do teatro Glauce Rocha, em 7 de novembro de 1973, no campus de Campo Grande, da então Universidade estadual de Mato Grosso representou uma conquista para a arte e a cultura local. O Glauce Rocha tornou-se o centro dos acontecimentos relevantes do Estado. Em 19 de outubro de 1989, é inaugurado, com a presença da homenageada, no primeiro andar do Centro Cultural José Octávio Guizzo. O teatro Aracy Balabanian. Com exceção do Aracy Balabanian, há mais de vinte anos não se constrói um teatro em Mato Grosso do sul. Os municípios do interior vibravam de alegria, com a chegada dos trapezistas, dos palhaços, dos acrobatas, dos animais ferozes, que desfilavam pelas ruas, convidando ao riso, à fantasia. O circo- teatro funcionou como espaço do entretenimento, da improvisação, tanto para os atores, como para o público, desde o início do século, até o advento da televisão.
Os textos, traduzidos do italiano e do espanhol, versavam sobre acontecimentos históricos ou casos da vida cotidiana e visavam à educação de hoje, o teatro constituía o grande acontecimento social da época. Os alunos do Colégio Dom Bosco, dos anos quarenta lembram-se com certeza dos dramas e comédias encenadas por José Alberto Veronesi; apelidado carinhosamente Mata Onça, ou das festas organizadas pelo Padre José Valentim. A ideologia do autor está patente nas peças EDUCAÇÃO MODERNA e ÚLTIMO PELOTÃO.
São praticamente inexistentes os registros sobre o teatro amador encenado antes dos anos sessenta. As maiores referências acham-se na revista Folha da Serra, 1940. Uma pesquisa acurada nos jornais, tanto da Capital, quanto dos municípios, forneceria maiores informações, que ajudariam a reconstituir a memória teatral do Estado.
De forma sistemática, no sentido de um trabalho contínuo, o teatro em Campo Grande afirma-se com a criação dos primeiros cursos superiores. Dele fizeram parte alunos das Faculdades Dom Aquino, das Faculdades de Farmácia e odontologia, de Direito e do terceiro científico do Colégio Estadual Campo-grandense, dispostos a encenar peças, que abordassem a realidade social brasileira, num tempo em que o teatro sofria forte pressão do serviço nacional de censura.
As três primeiras peças do TUC: ARENA CONTA ZUMBI, LIBERDADE e MORTE E VIDA SEVERINA, denunciadoras da situação, por que o País estava passando, foram objetos de severa vigilância por parte da Censura, que esteve presente em todas as estréias, tanto na Capital, quanto nos municípios, ameaçando a direção, quando algum dos atores saía fora do script. Para isso receberam apoio financeiro dos prefeitos da época. Em agosto de 1970, o TUC fez sua última apresentação nas comemorações do aniversário da cidade. A peça foi DIADORIM MEU SERTÃO, adaptação do livro GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de Guimarães Rosa, feita pelos alunos do terceiro ano de Letras da Faculdade Dom Aquino: Arlete Machado lves, Maria Jerusa Rodrigues e Ismael Xavier de Oliveira. Os atores cuidaram da cenografia e da parte musical.
A partir de 1974, a Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande passou a realizar no encerramento do ano letivo um festival de teatro, que valorizava as criações dos alunos, e fazia do teatro instrumento de amor à escola e de entrosamento com a vida. O secretário de Educação, ao ver refletida no espelho do teatro a própria estrutura hierárquica do órgão, sob sua direção, ordenou ao diretor da peça Hélio de Lima, que parasse o espetáculo e deu por encerrado o Festival da REME. Como resultado do incentivo dos festivais, surgiram em Mato Grosso do Sul diversos grupos de teatro, como o GUTAC (Grupo de Teatro Amador Campo-grandense) e o GUTIC, dos quais faziam parte Américo Calheiros, Vanderley Rosa, Maria Crisitna Moreira de Oliveira, Hélio de Lima, Joana d’Arc, Rosemary Lamontano. Na década de trinta, segundo depoimento de Celso Muller do Amaral ao livro Memória da Cultura e da Educação em Mato Grosso do Sul, existiu o grupo de Dona Antonia Capilé, com repertório, que abrangia o drama, a comédia e a tragédia e que viajou a cidades vizinhas.
O percurso e fundador do teatro em Três Lagoas foi Nestor Guimarães, que na década de trinta encenava musicais. Do grupo fazia parte Conceição de Oliveira, uma das primeiras atrizes da cidade. Na década de sessenta, o jornalista Vicente Leão dirigiu um grupo, que ajudou na construção do Cine Lapa.
Irene Marques Alexandria é hoje a figura mais importante do teatro três-lagoense. O teatro da Patota Infantil, fundado por ela em 1974, é pioneiro na representação com bonecos.


Texto: Maria da Glória Sá Rosa

Resumo Extraído do Livro “Memória da Arte em MS”.

 

Maria da Glória Sá Rosa

Nasceu em Mombaça (CE), no dia 4 de novembro de 1927.
   É casada com o engenheiro agrônomo e pecuarista José Ferreira Rosa. Tem quatro filhos e sete netos.
   

Contato: glorinha.msi@terra.com.br


   
   Atividades Profissionais e Culturais:
   Professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde trabalhou durante 26 anos;
   No Centro de Ciências Humanas da referida Universidade, lecionou Literaturas de Língua Portuguesa e História da Arte. Publicou vários livros e centenas de artigos sobre cultura em jornais e revistas;
   Formada em Línguas Neo-latinas na PUC/RJ;
   Diplomada em Francês, fundou e dirigiu a Aliança Francesa - Campo Grande (MS);
   Fundou a Revista Estudos Universitários/FUCMAT; o Teatro Universitário Campo-grandense (TUC) e o Cine Clube de Campo Grande;
   Dirigiu o projeto Prata da Casa, responsável por espetáculos de música ao vivo e pela edição de disco de músicas da região;
   Foi Secretária-adjunta da Secretaria de Desenvolvimento Social; Diretora Executiva da Fundação de Cultura; Presidente do Conselho Estadual de Cultura; Superintendente da Secretaria de Cultura e Esportes; Presidente da Fundação de Cultura;
   Lecionou Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Teoria da Literatura e Prática de Ensino de Português, nas principais Escolas Superiores e escolas secundárias, além dos idiomas Francês e Espanhol;
   Coordenou e assessorou cursos universitários e núcleos de serviços culturais;
   Proferiu várias conferências Acadêmicas;
   Coordenou diversos festivais de teatro e música em Campo Grande (atualmente, incentiva e promove concursos e festivais de música e poesia na Escola CEI, onde leciona);
   Produziu os programas Intercomunicação na TV Morena e Mensagem ao Mundo Feminino na rádio educação rural;
   Foi agraciada com os títulos de "Cidadã de sua cidade" e recebeu a Medalha do seu "Centenário"; conquistou a Medalha do "Mérito Legislativo"; a da "Ordem do Mérito do Estado" e a de "Honra ao Mérito"; além da Medalha da BPW/CG - 99;
   Escreve para o Caderno B (Suplemento Cultural) do Jornal Correio do Estado;
   É também membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte.

 

   Obras publicadas:
   Estudo sobre Guimarães Rosa – 1967;
   Análise Estrutural do Romance – 1971;
   O Romance brasileiro atual Realismo Mágico e Realismo Mimético – 1976;
   Análise Interpretativa do conto “Casa de Bronze” de João Guimarães Rosa – 1974;
   Deus quer, o homem sonha, a cidade nasce - "Campo Grande Cem Anos de História”;
   Contos de Hoje e Sempre - Tecendo Palavras.
   Artes Plásticas em Mato Grosso do Sul (em parceria com Idara Duncan e Yara Penteado).

   Autora de ensaios artigos e livros didáticos, quase sempre em parceria com colegas de magistério.

   Doutora Honoris Causa pela UFMS, recebeu recentemente o título de Cidadã Sul-Mato-Grossense.

Fonte: https://www.acletrasms.com.br/membro.asp?IDMCad=37

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