Hino do Estado de Mato Grosso do Sul

Hino do Estado de Mato Grosso do Sul

O mais recente dos símbolos oficiais mato-grossenses é o Hino Oficial de Mato Grosso, criado pelo Decreto N.º 208, de 05/09/1983, por iniciativa do governador Júlio José de Campos, oficializando a letra do poema "Canção Mato-grossense", de autoria de Dom Francisco de Aquino Corrêa, musicado pelo maestro e tenente da Polícia Militar Emílio Heine, "sendo inalterável no seu todo ou nas suas partes".

A "Canção Mato-grossense" foi cantada em público pela primeira vez durante a cerimônia principal das comemorações do bicentenário de fundação de Cuiabá, em 08/04/1919. A Capital de Mato Grosso despertou às quatro horas daquele dia com a tradicional alvorada festiva, que foi mais solene então do que nas vezes anteriores e até hoje sem comparação. Dos mais diferentes pontos de Cuiabá partiam foguetes e salvas que iluminavam aquela madrugada inesquecível e ao mesmo tempo acordando a população local, tanto era o barulho que provocava. Foi uma festa em todos os sentidos, engalanada com as notas marciais das bandas de música e dos clarins que percorriam as ruas centrais da bicentenária cidade do Senhor Bom Jesus em direção da Praça da República.

Como se fosse uma benção divina ao aniversário de fundação de Cuiabá, uma chuva suave começou a cair. Às sete horas da manhã já estava lotada a Praça da República, que apresentava rica, colorida e festiva ornamentação, com um imponente arco em frente à Catedral Metropolitana. Em cima do mencionado arco tremulava solenemente a Bandeira de Mato Grosso, tendo na sua base a inscrição "Salve 8 de Abril de 1719 - 8 de abril de 1919".

Até a chegada das autoridades locais correspondeu em pompa ao incomparável momento. Uma companhia do Primeiro Batalhão foi encarregada de fazer a guarda de honra à solenidade, apresentando pela primeira vez o seu uniforme branco de gala. A missa campal foi celebrada por Dom Carlos Luiz d'Amour, o então arcebispo de Cuiabá. Estavam presentes as mais importantes autoridades locais, a começar pelo chefe do Executivo estadual, Dom Francisco de Aquino Corrêa, que se fazia acompanhar dos seus secretários, além de magistrados, comandantes e oficiais das corporações militares.

No solene altar erguido no átrio da Catedral Metropolitana estava a imagem histórica do Senhor Bom de Cuiabá. Tão logo a missa foi iniciada, a fina chuva deu lugar a um Sol brilhante, acompanhado de uma agradável aragem. Conforme a tradição, quando Dom Carlos Luiz d'Amour fez a elevação da hóstia consagrada a banda de música da Força Pública do Estado executou o Hino Nacional, numa comovente união de civismo e religiosidade.

Encerrada a cerimônia, já por volta das 9:00 horas, um grupo de senhoritas cuiabanas cantou em público pela primeira vez o Hino de Mato Grosso, mais conhecido por "Canção Mato-grossense", que Dom Francisco de Aquino Corrêa havia escrito, com música do maestro Emílio Heine, especialmente para as comemorações do bicentenário de fundação de Cuiabá. Não era ainda o Hino Oficial de Mato Grosso.
À noite, no Palácio da Instrução, na solenidade de instalação do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, depois do discurso de Dom Francisco de Aquino Corrêa, 21 alunos da Escola Modelo Barão de Melgaço, representando todos os Municípios do Estado, cantaram novamente a "Canção Mato-grossense" e foram aplaudidos de pé.

A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18/09/1946 restabeleceu os símbolos oficiais dos Estados. Mato Grosso não tinha, então, o seu hino oficial e por isto o artigo 140 da Constituição do Estado de Mato Grosso de 11/07/1947 refere-se apenas ao Brasão de Armas e à Bandeira. Contudo, os novos governantes mato-grossenses não trataram de oficializar a "Canção Mato-grossense", que era o Hino a Mato Grosso já existente. Na verdade, oficiosamente e nos corações dos mato-grossenses, a letra de Dom Francisco de Aquino Corrêa e a música do Maestro Emílio Heine correspondiam ao mais puro e legítimo Hino de Mato Grosso. O governador Júlio José de Campos, visando corrigir esta lacuna, criou uma comissão para se pronunciar a respeito, baixando o seguinte ato:

"DECRETO N° 38, DE 03 DE MAIO DE 1983. Cria Comissão Especial para proceder estudos sobre o Hino de Mato Grosso e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO, no uso das. . atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 42, item 111, da Constituição Estadual, DECRETA: Artigo 1° - Fica criada Comissão Especial para proceder estudos sobre o Hino de Mato Grosso. Artigo 2° - A Comissão, de que trata o artigo 1° deste Decreto, será 23 composta pelo estudiosos ADAUTO ALENCAR, ARCHIMEDES PEREIRA LIMA, MARÍLlA BEATRIZ FIGUEIREDO LEITE, LÍDIO MODESTO DA SILVA e PEDRO ROCHA JUCÁ, para, sob a presidência do primeiro, realizar os estudos para possíveis modificações na letra e música do Hino de Mato Grosso. Artigo 3° - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 03 de Maio de 1983, 162° da Independência e 95° da República. JÚLIO JOSÉ DE CAMPOS MARIA DAS GRAÇAS PINTO ALENCAR."

Em 05/05/1983, o jornal "O ESTADO DE MATO GROSSO" publicou o seguinte editorial, intitulado "O Hino de Mato Grosso": "O governador Júlio Campos acaba de nomear uma comissão de alto nível, através de decreto ontem publicado no Diário Oficial do Estado, para tratar da oficialização da letra e da música do Hino de Mato Grosso. Os meios culturais de Mato Grosso já firmaram posição quanto à letra de Dom Aquino Corrêa, sem qualquer modificação. Interpretando esta decisão, ao tomar posse na AML, a 7 de setembro de 1981, o acadêmico Pedro Rocha Jucá solicitou ao então governador Frederico Campos, saindo do texto do seu discurso, que fosse oficializado o Hino de Mato Grosso de autoria de Dom Aquino Corrêa.

A Academia Mato-grossense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso já se pronunciaram a respeito e não concordam com qualquer alteração. Não se pode modificar uma obra literária, principalmente quando ela é fruto de uma inteligência incomparável como a de Dom Aquino Corrêa e de um hino que já está no coração do povo mato-grossense. Caberá a esta comissão apenas oficializar o que está consagrado pela tradição da nossa gente, exaltando a obra de um poeta inesquecível, filho da terra, e o único mato-grossense a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Dom Aquino Corrêa conseguiu, com rara felicidade, transportar para um texto poético e sentimental a melhor expressão da grandeza e do valor do povo de Mato Grosso". Os membros da Comissão Especial nomeada pelo então governador Júlio José de Campos reuniram-se pela primeira vez em 13/05/1983, sob a presidência do acadêmico Adauto Dias de Alencar, sendo escolhido o jornalista e acadêmico Pedro Rocha Jucá para as funções de secretário. Já nesta primeira reunião ficou decidido que seria mantida a letra original de Dom Aquino Corrêa e que a única alteração aceita seria no ritmo e na harmonia da música, cuja melodia também seria mantida. Como o aspecto da música estava a exigir mais pesquisas, a comissão marcou uma nova reunião para 18/05/1983, no mesmo jornal "O ESTADO DE MATO GROSSO", que praticamente foi a sede de suas atividades.

Em 22/05/1983, o mesmo jornal publicou mais um artigo a respeito da oficialização do Hino de Mato Grosso. Com o título "Valiosos Pronunciamentos", o historiador Luis-Philippe Pereira Leite, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, assim escreveu: "A Comissão designada pelo Governo do Estado através da Secretaria de Educação para opinar sobre a oficialização da letra e do Hino de Mato Grosso vem se reunindo regularmente sob a presidência do ilustre acadêmico Adauto de Alencar. Enquanto isso, as figuras mais eminentes de Mato Grosso manifestam o seu ponto de vista sobre o palpitante problema".

"Em 11 de abril último já o eminente cuiabano e acadêmico Desembargador Antonio de Arruda, professor da Universidade Federal de Mato Grosso, antigo presidente do Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso e há mais de 20 anos assessor da Escola Superior de Guerra, onde exerce a importante missão de permanente reformulação de sua doutrina, escrevia-me: "Estou de acordo com você com relação ao Hino de Mato Grosso: a referência a cidades desmembradas do Estado não desvirtua a obra poética, que reflete um momento histórico".

"Agora, é a vez do ilustre médico, antigo companheiro da Constituinte de 1947, Jary Gomes, que governou Mato Grosso após a desincompatibilização do governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, de 1950 a 1951. Assim se manifesta em carta de 9 de maio: "Considerei oportuno. A sua iniciativa de lançar verdadeira conclamação aos dirigentes do Estado e à Assembléia Legislativa, pela oficialização do magnífico Hino de D. Aquino, constitui gesto louvável e patriótico, não apenas pelo que nos oferece de arte e de beleza, pelo que evoca de virtudes da nossa gente, dos feitos dos nossos desbravadores, das nossas inexauríveis riquezas naturais, do progresso que, hoje, testemunhamos, mas também pelo reconhecimento que Mato Grosso não pode negar ao insigne prelado que, com a sua verve inimitável, nacionalmente consagrada, com os versos condoreiros gravados em cada estrofe, com o seu descortino, como exemplos, com palavras e ações de sábio e de mestre, tanto honrou, glorificou e amou o nosso vitorioso Estado".

Não me lembro bem se foi em 1921 ou 22, na escola primária de D. Madalena Mamolier, em Ponta Porã, que cantei com os alunos, pela primeira vez, o lindíssimo Hino de Mato Grosso. E, ainda, ao longe soam-me aos ouvidos o significativo estribilho: "Salve terra de amor, terra de ouro,/Que sonhara Moreira Cabral!/ Chova o céu dos seus dons o tesouro,/Sobre ti, bela terra natal!" Muitas razões há para que se oficialize o Hino, entre outras: 1 - por ser de autoria de um dos expoentes da Poética Nacional; 2 - por que é belo; 3 - por que enfeixa em versos a própria história do nosso Estado. Parabéns".

"Entrego os valiosos pronunciamentos à consideração da ilustre comissão completada pelos acadêmicos Archimedes Pereira Lima e Pedro Rocha Jucá e pelos professores da Universidade Federal de Mato Grosso Marília Beatriz de Figueiredo Leite e Lídio Modesto". Sob a liderança do seu presidente, o acadêmico Luís-Philippe Pereira Leite, o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso reivindicava desde há muito a oficialização do Hino de Mato Grosso.

O jornal "O ESTADO DE MATO GROSSO" foi o veículo oficial desta luta, divulgando artigos dos historiadores Luís Philippe Pereira Leite, Pedro Rocha Jucá, Antonio de Arruda, Ernesto Borges e outros. O governador Júlio José de Campos reconheceu todo este esforço e entrou para a História de Mato Grosso como o acionador da tramitação administrativa que possibilitou a tão sonhada oficialização, uma das mais significativas reivindicações dos meios culturais, como também da população mato-grossense.

Outro nome que não pode ser esquecido é o do acadêmico Adauto Dias de Alencar, presidente da comissão especial nomeada pelo governador Júlio José de Campos. Sem sombra de dúvidas, dentro da mencionada comissão cabe a ele a maior parte dos méritos pelo êxito alcançado. Já na primeira reunião, ele dizia da necessidade de se dar mais vibração, mais ritmo, ao hino. Para que isto fosse possível, ele teve o apoio do jornalista Pedro Rocha Jucá e contou com a valiosa colaboração da Banda de Música da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, e em particular do seu maestro na época, o então tenente Arcelino Alves Ferreira.

Na sua edição de 03/09/1983, o jornal "O ESTADO DE MATO GROSSO" publicou a seguinte notícia: "A comissão nomeada pelo governador Júlio Campos, para estudar a letra e a música da "Canção Mato-grossense", de autoria de D. Francisco de Aquino Corrêa e Emílio Heine, respectivamente, visando a sua posterior oficialização como o Hino de Mato Grosso, reuniu-se ontem, pela manhã, com a secretária de Educação e Cultura, professora Maria das Graças Pinto Alencar, e com o coordenador-geral do órgão, professor Artur Pires de Araújo, quando apresentou, através de um memorial, o resultado dos estudos que realizou, bem como as considerações finais sobre o assunto.

No memorial apresentado, a comissão composta por Adauto Dias de Alencar, presidente; Pedro Rocha Jucá, secretário; e os membros, Archimedes Pereira Lima, Lídio Modesto da Silva e Marília Beatriz de Figueiredo Leite, diz que em cumprimento ao Decreto nº 38, de 03/05/1983, do governador do Estado, que instituiu a presente comissão, após realizar os estudos, "julgou por bem manter a letra original em sua extensão e conteúdo, visto não se poder mutilar uma obra literária ou artística sem autorização do autor..."

Prosseguindo, a comissão diz também que "o poema representa uma visão em termos altos sobre Mato Grosso. Contudo, para efeitos pedagógicos, o poema foi desestruturado, sem sofrer qualquer alteração em seu conteúdo. As quatro estrofes originárias de oito versos foram divididas em oito estrofes de quatro versos e a estrofe do estribilho, de quatro versos, passou para seis versos, alterando-se, no entanto, a métrica, que assim ficou estabelecida: o primeiro verso com seis sílabas; o segundo com três sílabas; o terceiro com nove sílabas; o quarto com três sílabas; o quinto com seis sílabas; e o sexto com nove sílabas".

A comissão diz ainda que "a idéia intrínseca do poema evoca referencias clássicas, históricas e fatores ambientais e telúricos regionais", passando em seguida a explicar os termos utilizados pelo autor, chamando a atenção para dois fatores históricos que para muitos, que não atentaram para a realidade dos fatos, não deveriam fazer parte da letra, com a divisão do Estado. Afirmam em seguida que, "contudo, na letra do hino jamais se cogitou do ambiente e sim do homem", dando como exemplo o verso "Dos teus bravos a glória se expande de Dourados até Corumbá", onde, ainda de acordo com a própria comissão, o que o autor decantou no poema foi a glória dos filhos de Mato Grosso e não o pedaço geográfico".

"Decantou a bravura de Antonio João Ribeiro, nascido em Poconé a 24 de novembro de 1820, e que tombou heroicamente em 29 de novembro de 1864, quando, no posto de tenente do Exército, comandava a Colônia Militar de Dourados. Decantou a bravura de Antonio Maria Coelho, na Retomada de Corumbá, ele nascido em Cuiabá a 8 de setembro de 1827 e falecido em Corumbá a 29 de agosto de 1894. Em razão de sua bravura, mereceu a confiança para ocupar o alto cargo de primeiro governador de Mato Grosso, na fase republicana, e agraciado pelo Imperador Pedro II com o título de nobreza de Barão de Amambaí". Segundo a comissão, o heroismo dessas duas figuras ilustres não diz respeito apenas a Mato Grosso e sim ao Brasil, nas circunstâncias por que passava a soberania nacional.

A comissão, finalizando o memorial, explica que "da forma que era executada a música, com a instrumentalização anterior, a melodia perdia muito em sua essência. O andamento era em 85 semínimas. Por isso se fez necessário um aumento para 120 semínimas. Além disso, a mudança do posicionamento de instrumentos daria mais vida à melodia. E assim se fez, sendo que a maior novidade foi a criação de uma partitura para Toque de Continência ao Governador do Estado, com exclusividade. Ao todo são 21 partituras, assim descritas: 1 para toque de Continência ao Governador do Estado; 1 para canto e orquestra; e 19 demonstrando a natureza em que o instrumento é armado. Cada uma dessas partituras indica uma conotação própria".

No final da reunião, a comissão passou às mãos da secretária de Educação e Cultura a letra do hino desestruturado, 21 partituras e uma fita gravada, apresentando um voto de louvor ao tenente Arcelino Alves Ferreira, maestro da Banda da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, por sua "eficiente colaboração para a conclusão do trabalho, na confecção das partituras e gravação".

A entrega do mencionado memorial foi feita na manhã de 02/09/1983. Fazia frio, o que não é comum nesse mês. Era uma manhã de sexta feira. No domingo anterior, com a gravação já feita, os acadêmicos Adauto Dias de Alencar, presidente, e Pedro Rocha Jucá, secretário, passaram o dia na Estância Nossa Senhora de Fátima, às margens do Rio Cuiabá, no Distrito de Guia, para uma definição sobre o andamento do Hino de Mato Grosso . Os dois membros da comissão ouviram as melhores opções numa gravação feita com a Banda de Música da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, em fita de áudio. Embora já tivessem feito a escolha, foram chamados os familiares para a avaliação final. Foi um momento de forte emoção. Concluída a execução do hino, com o andamento em 120 semínimas, o respeitoso silêncio foi rompido por expontâneos aplausos de aprovação e regozijo. Os trabalhos prosseguiram já na segunda feira, com o texto do memorial.

O documento estava dirigido à professora Maria das Graças Pinto Alencar, secretária de Estado de Educação e Cultura de Mato Grosso. Em anexo, com capa do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, a partitura completa do Hino de Mato Grosso a ser oficializado. Na íntegra, este era o texto do memorial entregue pela comissão especial:

"Em cumprimento ao Decreto n° 38, datado de 3 de maio de 1983, do Exmo. Sr. Governador do Estado, que instituiu a presente comissão para estudos da letra e da música da "Canção Mato-grossense", de autoria de Dom Francisco de Aquino Corrêa e Emílio Heine, respectivamente, visando a sua oficialização como Hino de Mato Grosso, passaremos às seguintes considerações:

O poema foi composto em oitavas (8 versos cada estrofe), em métrica de 9 sílabas poéticas, de sabor clássico. O corpo do poema conta com 36 versos, divididos em 4 estrofes, e o estribilho em uma estrofe de 4 versos. A comissão julgou por bem manter a letra original em sua extensão e conteúdo, visto não se poder mutilar uma obra, literária ou artística, sem autorização do autor. O poema representa uma visão em termos altos sobre Mato Grosso. Contudo, para efeitos pedagógicos, o poema foi desestruturado, sem sofrer qualquer alteração em seu conteúdo.

As 4 estrofes originárias de 8 versos foram divididas em 8 estrofes de 4 versos e a estrofe do estribilho de 4 versos passou para 6 versos, alterando- se, no entanto, a métrica, que assim ficou estabelecida: o primeiro verso com 6 sílabas, o segundo com 3 sílabas, o terceiro com 9 sílabas, o quarto com 3 sílabas, o quinto com 6 sílabas e o sexto com 9 sílabas.

A idéia intrínseca do poema evoca referencias clássicas, históricas e fatores ambientais e telúricos regionais. No início do poema encontramos o termo: "Qual novo colosso", efeito comparativo entre Mato Grosso e o Colosso de Rodes, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. No final do poema encontramos a referência mitológica egípcia: "Teu progresso imortal como a Fênix / Que ainda timbra o teu nobre brasão". O autor faz alusão ao pássaro Fênix, que, segundo a mitologia egípcia, depois de viver muitos séculos, entrava em uma fogueira, em suicídio expontâneo, e depois renascia das próprias cinzas. Tal alusão era uma forma afirmativa do autor de que Mato Grosso, mesmo passando por várias dificuldades, renascia sempre para o progresso.

Sendo Dom Francisco de Aquino Corrêa autor do Brasão de Mato Grosso, fez encimar sobre o mesmo a figura de uma Fênix e foi oficializado pelo Decreto nº 799, de 14 de agosto de 1918. No mundo botânico encontramos duas referências, que também fazem partes do Brasão: um ramo de seringueira e outro de erva-mate. Note-se a referência constante entre o Brasão e a letra do Hino. A riqueza mineral está presente no ouro e no diamante jorrando nas grupiaras. A pecuária se faz notar nas paragens pantaneiras, povoadas de gado vacum e cavalar. No mundo antropológico estão presentes duas figuras antagônicas do início da civilização de Mato Grosso: o bandeirante e o índio, responsáveis pelo aumento da população no caldeamento de povo e raça.

Há dois fatores históricos que, para muitos que não atentaram para a realidade dos fatos, não deveriam fazer parte da letra, com a divisão do Estado. Contudo, na letra do Hino jamais se cogitou do ambiente e sim do homem, como veremos: "Dos teus bravos a glória se expande / De Dourados até Corumbá". O que o autor decantou no poema foi a glória dos filhos de Mato Grosso e não o pedaço geográfico. Decantou a bravura de Antonio João Ribeiro, nascido em Poconé, em 24 de novembro de 1823, e que tombou, heroicamente, em 29 de dezembro de 1864, quando, no posto de tenente do Exército, comandava a Colônia Militar de Dourados. Decantou a bravura de Antonio Maria Coelho na Retomada de Corumbá, ele nascido em Cuiabá em 8 de setembro de 1827 e falecido em Corumbá em 29 de agosto de 1894.
Em razão de sua bravura, mereceu a confiança para ocupar o alto cargo de primeiro governador de Mato Grosso, na fase republicana, e agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com o título de nobreza de Barão de Amambaí. Mas, o heroísmo dessas duas figuras ilustres não diz respeito apenas a Mato Grosso e sim ao Brasil, nas circunstâncias por que passava a soberania nacional.

O estudo da música foi sem dúvida moroso em razão da confecção das partituras. Da forma como era executada, com a instrumentação anterior, a melodia perdia muito em sua essência. O andamento era em 85 semínimas. Por isso se fez necessário um aumento para 120 semínimas. Além disso, a mudança no posicionamento de instrumentos daria mais vida à melodia. E assim se fez. A maior novidade foi a criação de uma partitura para Toque de Continência ao Governo do Estado, com exclusividade. Ao todo, são 21 partituras, assim descritas: uma partitura para Toque de Continência ao Governo do Estado; uma partitura para canto e orquestra; 19 partituras demonstrando a natureza em que o instrumento é armado. Cada uma dessas partituras indica sua conotação própria.

Concluídos os trabalhos, passamos às mãos de V. Excia. este Memorial, com as nossas homenagens, a letra do Hino desestruturada, 21 partituras e uma fita gravada. A comissão deixa, aqui, merecidamente, um voto de louvor ao tenente Arcelino Alves Ferreira, maestro da banda da nossa gloriosa Polícia Militar, por sua eficiente colaboração para a conclusão deste trabalho, na confecção das partituras e gravação. Hipotecando nosso profundo respeito e distinguida consideração, agradecendo a confiança em nós depositada, damos por encerrada a missão.

Cuiabá, 2 de setembro de 1983. ADAUTO DIAS DE ALENCAR, Presidente PEDRO ROCHA JUCÁ, Secretário ARCHIMEDES PEREIRA LIMA, Vogal MARÍLIA BEATRIZ DE FIGUEIREDO LEITE, Vogal LÍDIO MODESTO DA SILVA, Vogal

O Hino de Mato Grosso, oficializado em 05/09/1983, foi executado pela primeira vez com todas as honras de estilo às 9:00 horas da manhã de 07/09/1983, na Rua Barão de Melgaço, em frente à Assembléia Legislativa de Mato Grosso, quando o governador Júlio José de Campos, passou em revista as tropas do 1.º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso, quando foi saudado, pela primeira vez, com o toque de continência ao governador previsto no Hino Oficial do Estado de Mato Grosso. O Hino Oficial de Mato Grosso foi executado pela primeira vez em 07/09/1983, em sessão cívica da Assembléia Legislativa de Mato Grosso alusiva à data, executado pela Banda da Polícia Militar. A histórica "Canção Mato-grossense" não era apenas o hino reconhecido pelos mato-grossenses, mas também o Hino Oficial do Estado de Mato Grosso.

Nessa sessão cívica, o governador Júlio José de Campos falou sobre a recente oficialização do Hino de Mato Grosso, destacando a figura de Dom Francisco de Aquino Corrêa. Além do governador do Estado, estavam presentes ainda a essa solenidade o deputado estadual Ubiratan Francisco Vilela Tom Spinelli, presidente da Assembléia Legislativa; o desembargador Benedito Pereira do Nascimento, presidente do Tribunal de Justiça; o dr. Anildo Lima Barros, prefeito municipal de Cuiabá; o general-de-Brigada Carlos Arcoverde de Freitas Almeida, comandante da 13ª Brigada de Infantaria Motorizada; Dom Bonifácio Piccinini, arcebispo metropolitano de Cuiabá, além de várias outras autoridades civis e militares.

Após todos os registros históricos a respeito da oficialização do Hino de Mato Grosso, em 14/10/1983 a Sra. Vera lolanda Randazzo, diretora do Arquivo Público de Mato Grosso, enviou ofício ao Dr. Osmar Capilé, coordenador-geral da Secretaria de Administração, informando que recebeu a visita dos acadêmicos Adauto Dias de Alencar e Pedro Rocha Jucá, que ofereceram a aquele órgão oficial um histórico completo sobre o Hino Oficial de Mato Grosso. Ainda com relação ao Hino Oficial do Estado de Mato Grosso, a Lei nº 6.133, de 11/12/1992, tornou obrigatória a sua publicação, "pelo menos em um número mensal" dos "Diário Oficial do Estado" e "Diário da Justiça". A mencionada lei também obriga a publicação dos nomes de Dom Francisco de Aquino Corrêa, autor da letra, e do maestro Emílio Heine, compositor da música. Trata-se de uma lei inédita no Brasil.

O Hino Oficial de Mato Grosso, executado no andamento de 120 semínimas, tem as 21 partituras seguintes:
uma para toque de Continência ao Governador do Estado, uma para canto e orquestra; e 19 demonstrando a natureza em que o instrumento é armado. Cada uma dessas partituras tem conotação própria. O poema foi composto em oitavas (oito versos cada estrofe), em métrica de nove sílabas poéticas, sabor clássico, em 36 versos, divididos em quatro estrofes, e o estribilho em uma estrofe de quatro versos.

No Hino Oficial de Mato Grosso as quatro estrofes originárias de oito versos foram divididas em oito estrofes, todas de quatro versos, e a estrofe do estribilho, que tinha apenas quatro versos passou para seis versos, alterando-se, no entanto, a sua métrica, que assim ficou estabelecida: o primeiro verso com seis sílabas, o segundo com três sílabas, o terceiro com nove sílabas, o quarto com três sílabas, o quinto com seis sílabas e o sexto com nove sílabas.

A imensa extensão territorial de Mato Grosso já compreendeu parte do Estado do Acre e do Amazonas e integralmente os Estados de Rondônia e de Mato Grosso do Sul. Portanto, a História de Mato Grosso vai até além dos seus atuais limites. Por isto, é natural que o Hino Oficial do Estado de Mato Grosso cite as cidades de Corumbá e Dourados, que já pertenceram ao território mato-grossense e foram cenários históricos para importantes páginas de glória e bravura do seu povo. Quando Dom Francisco de Aquino Corrêa escreveu o texto da "Canção Mato-grossense", que foi reconhecida em 1983 como o Hino Oficial do Estado de Mato Grosso, o território mato-grossense compreendia, também, o atual Estado de Mato Grosso do Sul, onde aquelas duas cidades estão localizadas. Se quisesse, Dom Francisco de Aquino Corrêa poderia ter incluído o Forte Príncipe da Beira, em Rondônia, por exemplo.

Em 13/05/1983, a comissão especial se reuniu pela primeira vez, no jornal "O Estado de Mato Grosso", e aprovou a manutenção da letra de Dom Francisco de Aquino Corrêa e da música do Maestro Emílio Heine, com ligeiras alterações somente no ritmo e na harmonia, para facilitar a execução em público. Uma nova reunião foi marcada para 18/05/1983, sempre no mesmo jornal "O Estado de Mato Grosso", que passou a ser a sede de suas atividades.

O jornal "O Estado de Mato Grosso" publicou na sua edição de 05/05/1983 um editorial em que o jornalista Pedro Rocha Jucá afirmou: "Os meios culturais de Mato Grosso já firmaram posição quanto à letra de Dom Aquino Corrêa, sem qualquer modificação. Interpretando esta decisão, ao tomar posse na AML, a 7 de setembro de 1981, o acadêmico Pedro Rocha Jucá solicitou ao então governador Frederico Campos, saindo do texto do seu discurso, que fosse oficializado o Hino de Mato Grosso de autoria de Dom Aquino Corrêa".

Prossegue: "A Academia Mato-grossense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso já se pronunciaram a respeito e não concordam com qualquer alteração. Não se pode modificar uma obra literária, principalmente quando ela é fruto de uma inteligência incomparável como a de Dom Aquino Corrêa e de um hino que já está no coração do povo mato-grossense. Caberá a esta comissão apenas - ressaltou - oficializar o que está consagrado pela tradição da nossa gente, exaltando a obra de um poeta inesquecível, filho da terra, e do único mato-grossense a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Dom Aquino Corrêa conseguiu, com rara felicidade, transportar para um texto poético e sentimental a melhor expressão da grandeza e do valor do povo de Mato Grosso".



 

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